Patrícia Alves,
Márcia Gomes e Rodrigo Leal
Resumo: O presente trabalho
objetiva analisar a perspectiva ambiental dos vendedores ambulantes, pedestres
e a população residente na área da Feira Livre de Beberibe em relação à
degradação ambiental do Rio Beberibe, Recife/Olinda – Pernambuco. Estabelecendo
como objetivos específicos: conhecer e compreender os impactos ambientais
negativos gerados pelos resíduos sólidos e líquidos provenientes da feira livre
de Beberibe; identificar, comparar e analisar as causas da degradação ambiental
no Rio Beberibe, baseando-se na própria perspectiva dos feirantes, pedestres e
população residente; e por fim, identificar as alternativas idealizadas pelo
público-alvo no que concerne a busca pela sustentabilidade e organização do
espaço local, além da tentativa de levar tais alternativas ao conhecimento dos
poderes públicos municipais. A pesquisa possui orientação qualitativa estando
centrada na análise de conteúdo, aliando referências teóricas a observações e
interpretações direta dos fatos. Faz-se uso da revisão bibliográfica,
documental e cartográfica, levantamento, coleta, tratamento e análise
interpretativa de dados secundários e primários, observação in loco, entrevistas semi-estruturadas direcionada aos
comerciantes ambulantes, pedestres e população residente na área de estudo,
além da análise interpretativa do material obtido. Os resultados obtidos
indicaram a presença de conflito territorial entre pedestres, feirantes,
moradores e até pelo Rio Beberibe. É intenso o estado de degradação ambiental
da área. Os feirantes, em sua maioria jogam os resíduos da feira no Rio,
enquanto todo esgoto das residências dos moradores da área é direcionado ao
Rio. Para os entrevistados, o Rio não possui importância alguma em suas vidas.
Por se tratar de uma área de divisa municipal, a gestão ambiental, segundo os
entrevistados, da região é deficiente, fato que complica mais o atual quadro de
degradação do Rio Beberibe.
Palavras-chave: Percepção Ambiental,
Degradação Ambiental, Rio Beberibe e Sustentabilidade socioambiental.
1 Introdução
Ao
longo da história da humanidade, os rios têm uma importância significativa na
expansão e formação territorial, pois “têm sido utilizados como vias de
penetração para o interior e facilitado o crescimento de aglomerados urbanos e
áreas cultivadas” (CUNHA, 2003, p. 224), levando-se também em consideração seu indispensável
uso para a sobrevivência humana.
A
constante relação desequilibrada, desenfreada e impensada, sem levar em
consideração a capacidade de suporte do ambiente, este aqui entendido como
resultado de inter-relação e interdependência de vários elementos que compõem o
meio, no espaço e no tempo (COUTINHO, 2009), tem gerado desequilíbrios consideráveis
nas dinâmicas dos sistemas das águas, do seu ciclo hidrológico. Neste sentido,
o presente trabalho versa analisar a perspectiva ambiental dos vendedores
ambulantes, pedestres e a população residente na área da Feira Livre de
Beberibe em relação à degradação ambiental do Rio Beberibe, Recife/Olinda –
Pernambuco. Estabelecendo como objetivos específicos: conhecer e compreender os
impactos ambientais negativos gerados pelos resíduos sólidos e líquidos
provenientes da feira livre de Beberibe; identificar, comparar e analisar as
causas da degradação ambiental do Rio Beberibe, baseando-se na própria
perspectiva dos feirantes, pedestres e população residente; e por fim, identificar
as alternativas idealizadas pelo público-alvo no que concerne a busca pela
sustentabilidade e organização do espaço local, além da tentativa de levar tais
alternativas ao conhecimento dos poderes públicos municipais.
A
pesquisa possui orientação qualitativa estando centrada na análise de conteúdo,
aliando referências teóricas a observações e interpretações direta dos fatos. Faz-se
uso da revisão bibliográfica, documental e cartográfica, levantamento, coleta,
tratamento e análise interpretativa de dados secundários e primários,
observação in loco, entrevistas
semi-estruturadas aos comerciantes ambulantes, pedestres e população residente
na área de estudo, além da análise interpretativa do material obtido.
O
estudo em pauta justifica-se por julgar-se necessário oferecer subsídios ao
conhecimento de como é a relação dos que atuam na Feira Livre de Beberibe com o
seu meio, a perspectiva ambiental destes e dos pedestres e população residente
em relação à organização territorial da área. Neste sentido, se buscará conhecer
e compreender os impactos negativos que são gerados pelas atividades
desenvolvidas na área, além de buscar alternativas de (re)ordenamento
ambiental, proporcionando assim, uma melhoria da sanidade ambiental, reordenamento
do território e mudança na paisagem.
2 Os Rios: interações e intervenções humanas,
breves considerações
Dentre
os diversos tipos de impactos negativos aos ambientes de rios, aqui se destaca
às causadas pelo crescimento de áreas urbanas sem as condições necessárias às
manutenções de áreas verdes, necessárias ao equilíbrio do sistema hidrológico,
e “sem as mínimas condições de saneamento (lixo, sedimentos e esgoto)” (CUNHA,
2003, p. 224).
Segundo
Sandra Cunha (2003, p. 224),
Os rios
espelham, de maneira indireta, as condições naturais e as atividades humanas
desenvolvidas na bacia hidrográfica, sofrendo em função da escala e intensidade
de mudanças nesses dois elementos, alterações, efeitos e/ou impactos no comportamento
da descarga, carga sólida e dissolvida, e poluição das águas.
É
necessário ressaltar que, em tais áreas, a crescente diminuição da calha dos
rios e canais é consequência da erosão das margens e assoreamento provocados
pela chegada de sedimentos, inclusive dos resíduos sólidos formando “bancos e
ilhas” de lixo, reduzindo assim, a capacidade de escoamento do canal e
favorecendo a inundações e a qualidade da água, além da qualidade de vida dos
indivíduos direta ou indiretamente afetados por tais problemas.
Este
quadro de degradação mencionado pode ser evidenciada, especificamente, em um
Rio de Pernambuco, Brasil – O Rio Beberibe. Esta situação tem sido agravada,
sobretudo, pela urbanização desordenada, tendo como uma das consequências a
falta de saneamento ambiental, levando-se em consideração que o rio em pauta
passa por áreas extremamente pobres.
3 O Rio Beberibe: seus caminhos e descaminhos
O Rio Beberibe, cuja nascente localiza-se no Município de Camaragibe, Pernambuco, pela junção dos Rios Pacas e Araçá, possui 23,7Km de extensão, situa-se nos municípios de Camaragibe, Recife e Olinda.
3 O Rio Beberibe: seus caminhos e descaminhos
O Rio Beberibe, cuja nascente localiza-se no Município de Camaragibe, Pernambuco, pela junção dos Rios Pacas e Araçá, possui 23,7Km de extensão, situa-se nos municípios de Camaragibe, Recife e Olinda.
Possui
como principais afluentes o Canal da Malária, o Córrego Euclides da Cunha e o
Canal Vasco da Gama, unindo-se ao Rio Capibaribe e desaguando-se no Oceano
Atlântico.
Recentemente,
alguns projetos têm sido desenvolvidos pelos poderes públicos em pró da
revitalização do Rio Beberibe, dentre eles destacam-se a obra de dragagem do
rio, que iniciou-se em maio de 2012, dentre o material retirado do rio “uma
parte vai para aterros sanitários e outra vai para um 'bota fora' a seis milhas
náuticas daqui, em duas embarcações, obedecendo aos estudos ambientais”, é o
que afirma o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (COUTINHO, 2012).
Tal
projeto tem o sentido de atender às áreas mais atingidas do rio, aumentando o
seu canal permitindo a navegação, com área de ciclovia para humanizar a sua
margem e transferência de populações ribeirinhas, com o intuito de permitir a
preservação de matas ciliares. “Vamos preservar também os locais de mata
ciliar, mas precisamos contar com a ajuda da população, para que não se jogue
mais material sólido [lixo] no rio, para ajudar a preservá-lo”, detalha o
secretário de Recursos Hídricos e Elétricos, Almir Cirilo (COUTINHO, 2012), neste
sentido se tem a importância da Educação Ambiental no planejamento, gestão e
monitoramento dos programas voltados à sustentabilidade dos ambientes
(COUTINHO, 2009).
Em
março deste ano, 2012, também ocorreu a primeira oficina de diagnóstico para a
elaboração do plano de manejo da Área de Preservação Ambiental Aldeia-Beberibe
(APA Aldeia-Beberibe). A Unidade de Conservação (UC), com área total de 31.634
hectares, tem como objetivos promover o desenvolvimento sustentável; proteger
espécies ameaçadas de extinção e mananciais hídricos; incentivar ações de
restauração florestal e melhorar a qualidade de vida da população local
(PERNAMBUCO, 2012) o que contribui à gestão ambiental do Rio Beberibe. Fica-se,
então, a grande vontade e a torcida de que tais planos e projetos realmente
atendam aos seus objetivos.
4 O Rio Beberibe e a Feira Livre: limites e
complementaridades
Um
ponto espacial de intensa degradação ambiental do Rio Beberibe, constatado ao
logo de seu leito, desde a nascente até sua confluência ao Rio Capibaribe, se
dá na Feira Livre de Beberibe, localizado especificamente na ponte de divisa
dos Municípios de Recife e Olinda (Figura 1).
Nesta
área, o rio sofre com os diversos tipos de degradação, aqui destaca-se os
lançamentos de resíduos sólidos e líquidos, “sobras de feira”, pelos vendedores
ambulantes que atuam na Feira Livre de Beberibe (Figura 2) e o lançamento do
esgoto doméstico das residências circunvizinhas.
Tal
feira é caracterizada por atrapalhar o tráfego de pedestres e veículos e sua
organização é dificultada por ser área de atuação político/administrativa
diferentes, por estar entre Recife e Olinda (Figura 3 e 4).
Neste
quadro, a análise da causa dos lançamentos destes resíduos nas águas do Rio
Beberibe pode contribuir à gestão ambiental desta área, tentando levar ao
conhecimento político/administrativos municipais, alternativas de
sustentabilidade do Rio Beberibe, ordenamento territorial e melhoria na
paisagem, o que colabora para a sanidade ambiental e a qualidade de vida dos
indivíduos que ali atuam.
5 A Luta pelo Território: feirantes X moradores locais X pedestres X Rio Beberibe
No presente estudo foram aplicados nove questionários semi-estruturados aos feirantes, moradores locais e pedestres, constituindo uma amostra de três questionários para cada categoria, com idades variando de 24 a 64 anos, sendo que cinco indivíduos do sexo masculino e quatro do sexo feminino.
5 A Luta pelo Território: feirantes X moradores locais X pedestres X Rio Beberibe
No presente estudo foram aplicados nove questionários semi-estruturados aos feirantes, moradores locais e pedestres, constituindo uma amostra de três questionários para cada categoria, com idades variando de 24 a 64 anos, sendo que cinco indivíduos do sexo masculino e quatro do sexo feminino.
Os
entrevistados, ao indicarem os problemas ambientais da área em evidencia se
contradisseram em alguns aspectos, a População Residente e os Pedestres, em sua
maioria, atribuíram como problema ambiental o lixo proveniente da feira. Já os
feirantes atribuíram aos carros. O fato é que, desde já, há uma ausência de
conceito referente aos assuntos ambientais por parte de muitos dos
entrevistados.
Ao indicarem
alternativas de como promover a qualidade das águas do Rio Beberibe, bem como
sua revitalização, os entrevistados afirmaram que “Vai demorar né?! Mas se
começar pelo menos a não jogar mais lixo lá já é um começo, sei que tem um
caminho longo e outras comunidades jogam também”. (L1); “Tirar a feira,
conscientizar a população e fazer um esgotamento sanitário eficiente”. (L2); Se
ver a importância dada pelos entrevistados quanto a conscieticação dos
indivíduos que ali atuam, o Pedestre (P2) ressalta este fato em sua afirmação: “Primeiro
conscientização, pois só as pessoas podem melhorar a situação do rio”.
O Pedestre (P1) demonstrou a
consciência de que é necessário ““Parar de jogar lixo e retirar um pouco essas
casas que ficam muito perto dele” (P1), por outro lado, os feirantes, com receio,
talvez, de que percam seu espaço de trabalho mencionaram que a alternativa era:
“Parar de despejar esgoto e deixar os feirantes onde está”. (F1); “Deixar de
despejar esgoto e diminuir a passagem desses carros por aqui” (F2).
Com a análise dos
dados e estudo de campo, constatou-se que há conflitos de interesse no
território quanto aos:
Pedestres – estes que
apontam como fatores de dificuldades da área o grande fluxo de carro e a feira
livre que ocupam as calçadas, para eles o Rio Beberibe não tem importância, mas
estão insatisfeitos com a atual situação de degradação, destacando a
importância da conscientização das pessoas quanto às questões ambientais;
Moradores – onde se
verificou que nenhum dos entrevistados possuem fossas e todo lixo e esgoto é direcionado
ao Rio Beberibe, e as opiniões variaram no requisito Bom/regular/ruim em morar
perto da feira. O L1 se contradisse ao afirmar ser bom morar perto da feira, e
o desejo de retirá-la para a resolução dos problemas da localidade. Apontam
como fatores de dificuldade o grande fluxo de carro e a feira livre que ocupam
as calçadas. A importância do Rio Beberibe para eles se resume em este ser uma
via de escoamento do esgoto e atribuem como agentes de degradação do Rio, os
feirantes.
Feirantes – os feirantes F2 (frutas) e F3 (temperos) revelaram que jogam todo o resto da feira no Rio Beberibe, apenas o F1 (frutas e verduras) evidenciou que vende o lixo. Eles atribuem a culpa da desorganização do espaço ao intenso fluxo de carros, mas acham a paisagem “boa”. O Rio Beberibe não tem importância nenhuma para eles. Culparam os moradores pela degradação do Rio, devido ao lançamento de esgoto e não querem sair da área, mas desejam a diminuição do fluxo de carros no local.
Feirantes – os feirantes F2 (frutas) e F3 (temperos) revelaram que jogam todo o resto da feira no Rio Beberibe, apenas o F1 (frutas e verduras) evidenciou que vende o lixo. Eles atribuem a culpa da desorganização do espaço ao intenso fluxo de carros, mas acham a paisagem “boa”. O Rio Beberibe não tem importância nenhuma para eles. Culparam os moradores pela degradação do Rio, devido ao lançamento de esgoto e não querem sair da área, mas desejam a diminuição do fluxo de carros no local.
6 Considerações Finais
O
principal problema identificado com relação aos pedestres é relacionado à
ocupação de sua área de mobilidade urbana pela Feira Livre do Beberibe; já para
os feirantes o problema se dá pelos carros, mesmo sabendo que ali é direcionado
para transito de veículos, e dizem que se não fosse o tráfego de carros estaria
tudo muito bem. Já para os moradores o problema é o mesmo observado pelos
passantes: o da invasão do espaço destinado para pedestres pelos feirantes,
entretanto, estes acham bom estarem próximo da feira livre.
Ao
que se refere ao Rio Beberibe foi verificado que o mesmo, para as pessoas
daquela área, tanto feirantes moradores e pedestres, é como se não existisse,
até mesmo pela falta de visibilidade do mesmo devido às bancas que tomam tanto
o espaço que até fazem as pessoas esquecerem que ali tem um rio.
Durante
a pesquisa de campo, verificou-se que nas margens do Rio existe criação de
porcos e cavalos. Além disso, o esgoto das residências é lançado diretamente no
rio e a maioria dos dejetos, tanto sólido como orgânicos, são também são jogados
livremente pelos comerciantes da área, que atuam, especificamente, na feira sem
nenhuma preocupação e consciência ambiental.
Por
se tratar de uma área de divisa de municípios – Recife e Olinda –, sua
administração torna-se complicada, pois uma prefeitura fica “jogado” a
responsabilidade na outra. Segundo os feirantes, a prefeitura de Olinda havia
feito uma proposta pra lhes retirarem da área e colocar-lhes num lugar bem
próximo. Muitos aprovaram a proposta, pois é um local muito próximo de onde
estão, mas que ainda falta ser desocupado. Entretanto, o projeto fica só no
papel e quando (se) sair da ideologia, a monitoração e gestão deverão ser de
qualidade, além de que os poderes públicos invistam em Educação Ambiental – um
poderoso instrumento de gestão ambiental. É necessária a retomada da
visibilidade e importância do Rio Beberibe. É necessária uma retomada aos
valores históricos-culturais-ambientais.
Referências
COUTINHO, Katherine. Em
PE, dragagem e revitalização do Rio Beberibe vão custar R$ 63 milhões. G1 Pernambuco. Pernambuco, 02/05/2012,
Notícias. Disponível em:
.
Acesso em: 8 maio 2012.
COUTINHO, Solange
Fernandes Soares. A educação ambiental na formação de professores. In: SEABRA,
Giovanni. (Org.). Educação ambiental. João Pessoa: Editora Universitária
da UFPB, 2009.
CUNHA, Sandra
Baptista. Canais fluviais e a questão ambiental. In: CUNHA, Sandra Baptista;
GUERRA, Antonio José Teixeira. (Org.) A
questão ambiental: diferentes abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2003.
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